Então, a coisa que eu mais gosto nesse trabalho todo, no meio de tanto tule, tantos zíperes e tantas planilhas, é conversar com as clientes. Pois é. Parece estranho vindo de quem tem um e-commerce, que não encontra quase ninguém cara a cara, que manda tudo embaladinho por transportadora e nem vê o vestido sendo provado — mas é verdade verdadeira.
A gente só virou e-commerce porque queria chegar mais longe.
Porque o Brasil é grande, minha filha.
E eu não queria que só quem mora aqui perto tivesse acesso a um vestido feito como deve ser feito. Mas se eu pudesse, juro, recebia cada uma aqui no ateliê com café passado e playlist boa, e já começava com aquele papo do tipo “me conta tudo do evento antes de pensar no vestido, tá?”
Mas enfim, foco.
Esses dias, trocando ideia com uma cliente querida, ela me pediu pra mudar uma parte do vestido.
Mas pediu com desculpa. Tipo assim: “Ai, desculpa, sei que tem estilistas que não gostam que mexam nas criações…”
E aquilo me pegou.
Porque, olha… Eu amo que mexam nas minhas criações.
Amo real.
Sabe por quê? Porque elas não são minhas. São tuas.
Cada vestido que a gente faz nasce com endereço certo — ele já tem dona antes de existir, antes da primeira costura. E o meu papel é só ajudar ele a nascer perfeito pra ti. Vou até contar um segredo (porque se é pra falar, vamos falar tudo): eu nem gosto de todos os modelos da loja. Pronto, falei.
Tem uns comportadinhos demais pro meu gosto, que sou mais chegada numa ousadia, num drama. Mas eu não faço vestidos pra mim — faço pra ti, que vai casar tua irmã, que vai se formar, que ta fazendo 40 anos e merece uma festão com toda dedicação que tu teve nas festinhas de aniversários dos filhos esses anos todos, ou ser madrinha daquele casamento na europa que vai durar quatro dias e precisa de vestido que aguente o tranco e as fotos.
E o mais legal é que a gente inventou aqui um sistema difícil até de explicar direito.
É tipo o meio do caminho entre comprar pronto e fazer sob medida.
Porque tu escolhe um modelo base (que já tá lindão), mas a partir dele pode pedir:
- mais fenda (alô, audaciosas),
- menos fenda (alô, discretas),
- mudar a cor,
- tirar o laço,
- trocar o laço por um cinto,
- colocar a saia de um modelo com o corpo de outro,
- ou até inventar um detalhe que nem existia ainda — e a gente vai lá e dá um jeito.
É tipo brincar de Barbie estilista, mas com acabamento de alfaiate europeu.
Tudo isso pra te dizer uma coisa só: usa e abusa dessa possibilidade.
Pede o que quiser, muda o que não amar, dá teus palpites.
O vestido vai ser feito pra ti — então ele tem que ter tua cara, teu gosto, teu jeito de andar e de comemorar.
A gente tá aqui pra isso: transformar tecido em sonho. Com forro, com bojo, com crinol… e com muito amor metido no meio da costura.