O crepe mussom, ah… o crepe mussom é praticamente o protagonista silencioso dessa história toda, é aquele tecido que não grita mas comanda, que não tem brilho mas brilha, que chegou quietinho no começo da marca e foi ficando, ficando, ficando, e hoje eu já nem imagino criar coleção sem ele, porque ele entende a gente, entende o corpo, o movimento, o vento, a festa, a lágrima discreta que escapa bem no meio da cerimônia, aquele momento em que a emoção passa primeiro pela pele antes de virar palavra.
Ele tem uma leveza que engana, porque parece delicado mas segura como ninguém quando a gente entretela, e ah, como entretela, porque aqui a gente não tem medo de estrutura, de sustância, de deixar o crepe com postura, com presença, com elegância — ele aceita as camadas como quem aceita destino, e o melhor, se adapta ao crinol como se tivesse nascido pra isso, como se dissesse “vem, que eu te acompanho”, e juntos eles criam aquelas ondas que parecem ter coreografia própria, aquela fluidez firme que não sai do lugar mas também nunca para de dançar.
O crepe é o não-brilho mais brilhante da moda festa.
Porque quem precisa de lantejoula quando tem elegância no corte, peso no tecido, acabamento impecável e aquele zíper que sobe sem esforço, aquela fenda que não revela demais, aquele ombro caído que parece acidental mas foi milimetricamente estudado no molde, na prova, na alma da modelista.
E tem mais: o crepe é democrático.
Fica lindo ajustado ao corpo com todas as nossas camadas internas de mágica — bojo, barbatana, entretela, bainha de costureira que sabe o que faz.
Fica leve e solto quando a gente quer saia rodada, babado esvoaçante, manga que dança.
Ele é o tipo de tecido que respeita a mulher que veste.
Não estufa, não arma onde não precisa, não marca onde não deve.
Ele entende o drama sem ser dramático.
E isso, ah, isso é coisa rara.
Por isso, quando tiver dúvida, vai nele.
Vai de crepe.
Vai de mussom.
Vai com fé e com confiança, que do lado de cá a gente costura o resto, porque o tecido a gente já acertou — e o resto, o resto é detalhe que a gente domina com linha, com tesoura e com amor até a última casa.